Baixa a bola, garoto. Eu não morro de amores por você. Pensei que
podia dar certo, mas olha, se eu te contar tudo o que eu já achei que
fosse dar certo na minha vida. Às vezes não dá, não é grande coisa. Já
aprendi a lidar com as minhas próprias decepções. Você, inclusive. Não é
grande coisa, sabia? É mais um desses carinhas que acham que podem
brincar com os outros e tudo bem. Comigo não vai ser assim, sinto muito.
Você pode continuar jogando seu charme, seu sorriso cafajeste e esse
monte de mentira meia-boca por aí. Eu só não vou comprar esse seu
jeitinho malandro. Aqui não. Precisa de um pouquinho mais que isso pra
ganhar meu coração.
Não vou mentir. Já gostei de caras como você. Era deslumbrada por
esse perfil não-tô-nem-aí. Acreditava, sabe? Em caras com o mesmo
sorriso que o seu. Com o mesmo discurso. E a mesma mania de quebrar
corações. Tadinha de mim, tão ingênua. Achava que vocês podiam mudar. Vê
se pode! Como se alguém mudasse por outra pessoa nesse mundo. E eu,
coitada, me iludia. Dava murro em ponta de faca, insistia até não
aguentar mais. Mas fica tranquilo. Agora, já tá tudo muito bem
resolvido.
Não te acho uma pessoa horrível. Juro que não. Só acho que se eu
posso escolher as apostas que vou fazer, por que raios eu apostaria em
você? Pra quê? Pra ver se você adquire vergonha na cara, se decide virar
um cara sério, se vai levar em conta o sentimento de quem entrega o
coração pra você? Já vi esse filme antes, garoto. Já cansei desse
script. Contra tipos como você, tô blindada. Fiquei à prova de mentiras.
Você pode ficar sem peso na consciência: esse coração você não quebrou.
Esse privilégio você não teve.
Mas deixa eu te contar um segredo: esse estilinho conquistador barato
não cola mais. É preciso mais que um sorrisinho maldito. Ainda dá
tempo, se você quiser. Vai lá se reinventar, quem sabe um dia você volte
a ter graça. De mim, sinto muito, você nunca vai ter muito, não. Não
porque eu tenha parado de acreditar no amor. É só que eu já acreditei em
muita coisa idiota nessa vida. Mas acreditar em tipos como você de
novo? Nunca mais, garoto.
Já aceitei restos demais. Mendiguei atenção, implorei amor, engoli,
calada, desatenções cruéis. Passou. Depois de tantos como você,
finalmente aprendi que não tenho vocação para ser uma dessas garotas que
amam sozinhas. Não, eu não sou dessas que vivem relacionamentos
unilaterais, que se jogam numa relação com um cara que “um-dia-muda”.
Muda nada. Foi isso que aprendi depois de tantos do seu tipo: vocês não
mudam. O que me resta, então, é sair por aí procurando alguém que
finalmente me mereça. E que eu, do meu jeito também torto, mereça
também. Simples assim.
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